(relato enviado pela Vivian Garelli, Bike Anjo Niterói, Rio e São Gonçalo)
Toda a minha relação com bicicleta, foi e é ainda constantemente construída através dos papéis de grandes mulheres na minha vida. Desde minhas primeiras pedaladas aos meus atuais descolamentos na cidade, entre trabalho e universidade, agradeço a todas as mulheres que transpassaram meu caminho nesse processo, tantas queridas amigas, parceiras e colegas que influenciam minha trajetória, mas existe uma pessoa em especial que é responsável por tudo isso acontecer: minha mãe.
Maria Helena, conhecida como a ativa bike anja, Helena, na cidade de Niterói, que além de ensinar pessoas a pedalar todo o mês, principalmente crianças na qual ela tem um carinho especial, é responsável por não apenas ter me ensinado a pedalar como a me fazer retomar meu relacionamento com a bicicleta. Depois de ganhar uma bike em um sorteio em um antigo emprego, ela corajosamente se jogou pelas ruas da cidade, integrando pouco a pouco a bike no seu deslocamento, como uma rotina especial sua introspectiva. Até que conheceu um grupo de pedal local e resolveu explorar novas possibilidades.
Era uma noite chuvosa, quando ela chegou completamente molhada, com um sorriso de orelha a orelha e um bigode de tecido do Freddie Mercury. Me lembro de pensar “essa galera da bike deve ser bem diferente. Gostei!”. Essa foi uma ação que me inspirou a comprar também uma bike para mim, e que nos proporcionou igualmente conhecer tantas pessoas que usavam a bicicleta como ferramenta para mudar o mundo. Essa ideia foi uma transformação nas nossas vidas! Ganhamos tempo para chegar ao trabalho/faculdade, mais saúde, ganhamos muitos amigos e principalmente, ganhamos um tempo nosso, que melhorou nosso relacionamento de mãe-filha.
Hoje em dia estamos juntas no Bike Anjo Niterói e nas pedaladas pela cidade, e além de todas as amizades , ganhamos um tempo juntas também fora de casa, compartilhando nossa vivência na cidade. Por tantas vezes ela sai para o trabalho e eu para a universidade e no final do dia nos encontramos para tomar um café, eu, ela e nossas bikes, clementine e pantera.
Claro que existem diferenças, tanto de tipos de bicicletas que usamos, como pedais, horários e tempo de engajamento. Na pós-graduação tenho horários mais flexíveis além do horário comercial que ela cumpre no emprego; ela usa modelos mais urbanos de bicicleta e eu em grande parte do tempo a minha bike speed. Os trajetos também são distintos na cidade, e às vezes acabo chegando mais rápido no trânsito, mas ela é bem mais corajosa que eu em cruzamentos e cada uma em seu estilo, ritmo e estilo vai caminhando pela cidade, às vezes paralelamente e às vezes não, mas sempre conectadas, na visão de cidade e de relações que queremos estabelecer. Uma se preocupa tanto com a outra, mas sempre a encoraja a superar seus desafios e seguir pedalando.
Na nossa casa das três mulheres, minha avó fica preocupada com ambas, mas se emociona a lembrar dos tempos que ela pedalada por ai, em uma bicicleta muuuito parecida com a que tenho hoje em dia. A bicicleta tem essa capacidade de evocar memórias e lembranças, de fortalecer laços de amor, e para mim de construir o futuro. Por tudo isso, sou muito grata a você, mãe. Te amo!
por Vivian Garelli
Bike Anjo Niterói, Rio de Janeiro e São Gonçalo
Coordenadora do GT Gênero UCB
Antropóloga e a filha da Anja Helena <3