Participamos do Workshop: Equidade de Gênero e Raça (iCS)

Promovido pelo GT Diversidade do Instituto Clima e Sociedade (ICS) em conjunto com a equipe do Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (CEERT).

Facilitação e Diálogo: Maria Aparecida Bento (diretora executiva do CEERT, doutora e psicóloga), Leonildes Nazar, assessora executiva e equipe do ICS.
Palestrantes convidados: Diosmar Filho, Giselle Santos e Daniel Teixeira.
Instituições parceiras presentes: ITDP Brasil, ISER, GIP, Alziras, Casa Fluminese, Projeto Kigali, GIP e Bike Anjo.
Local: Sede do ICS no Rio de Janeiro, de 9h30 às 13h.

O início da atividade foi marcada pela breve apresentação de todas as pessoas presentes (nome, ocupação e instituição) antes da apresentação da atividade seguida das palestras dos convidados, descrita a seguir:

Desigualdades Socioespaciais – Diosmar M. Santana Filho (Mestre em Geografia pela Universidade Federal da Bahia, docente e coordenador acadêmico de especializações relacionadas a povos e comunidades tradicionais, e autor do livro “A Geopolítica do Estado e o Território Quilombola no Século XXI, 2018).

Proposta: Analisar a geopolítica como o primeiro território do corpo, trabalhando a ideia de desenvolvimento relacionado diretamente à qualidade da vida e aos processos de construção de desigualdades.  Utilizando os autores Celso Furtado, Lia Osorio Machado e Carolina Maria de Jesus, o palestrante buscou demonstrar como a análise geográfica brasileira é marcada pela etnia, marcando a relação entre o planejamento urbano e os processos de racialização brasileira. Através de dados do IBGE desde a sua criação, ele problematizou as categorias de raça no Brasil, comparando os modelos de autodelaração de etnia com a valorização do modelo estadunidense, e ressaltado que as políticas de urbanização e sustentabilidade atravessam a construção dos corpos e as definições de negritude no Brasil.

História Social e Igualdade – Giselle dos Anjos Santos [Bacharela em História PUC-SP, e mestre em Estudos de Gênero e Teoria Feminista na UFBA, doutoranda em História Social na USP, com o projeto Discursos sobre a democracia racial em Cuba e no Brasil: Tramas de gênero, raça e sexualidade na literatura 1933-1978, além disso, é autora da publicação “Somos todas rainhas” de 2012, sobre a história das mulheres negras no Brasil. Compõe a coordenação da Área Científica sobre Feminismos Negros da Associação de Pesquisadores(as) Negros(as) ABPN e atua como Pesquisadora no CEERT nas áreas de gênero educação].

 

A importância da categoria de interseccionalidade como auxílio do pensamento político, pois pensa nos sujeitos não como soma de dados distintos, mas como constitutivos a partir da interação de diferentes ideologias, culturas e também expostos a diferentes violências. A definição de interseccionalidade é baseada nas teóricas Sojourner Truth e kimberlé Crenshaw, e a partir da sua dissertação de mestrado, Giselle exemplifica a opressão de mulheres em Cuba, que perdura mesmo após 50 anos da revolução, o que demonstra que as opressões não estão superadas como a teoria marxista se coloca, dessa forma a análise aritmética da opressão não resove, mas a análise interseccional sim.

Giselle utiliza o mapa da violência de gênero (2015) para trabalhar as intersecções entre raça e gênero, pois mulheres brancas e negras sofrem violências sob formas de assistência diferenciadas, assim como possuem o uso do tempo (segundo dados do IPEA), possuem padrões de mobilidade diferentes (Hanson, 2010). Por fim ela trabalhou os dados de assédio em transportes coletivos em São Paulo, no qual mulheres negras são estatisticamente mais expostas a violência nos transportes públicos, pois são maioria no uso de transporte compartilhado por serem mulheres, além de representarem maior parte no recorte de classe que utiliza menos transporte individual.

Então quais seriam os caminhos a adotar? Giselle trabalhou na ideia do aumento de sensos e pesquisas interseccionais para embasar as análises dados que ainda estão muito desagregados. Além disso, aumentar dos programas de diversidade (raça, gênero, sexualidade), criar mais oportunidades em editais e seleções que incluem ações afirmativas.

Equidade Racial: Trabalho e Meio Ambiente – Daniel Teixeira (Advogado e diretor de projetos do CEERT, especializado em Direitos Difusos e Coletivos pela PUC/SP, foi pesquisador-visitante da Faculdade de Direito da Universidade de Columbia, em Nova Iorque e Fellow do Public Interest Law Institute, em Budapeste.  É conferencista no Brasil e internacionalmente e co-autor dos livros “Discriminação racial é sinônimo de maus-tratos: a importância do ECA para crianças negras” e “Diversidade nas empresas e equidade racial”).

Qual a diferença entre menor e criança? A menoridade é tratada como um adjetivo, e infância como sujeito. Os dados de violência no Brasil superam os dados de genocídios internacionais, como o caso da Namíbia no qual morreram 65mil pessoas entre 1904 e 1907.  São 62mil homicídios por ano no Brasil (dados IPEA, Atlas da Violencia 2016). Segundo Nancy Fraser, o conceito bidimensional de justiça social entre direito à diferença e direito à igualdade são colocadas em cheque constantemente na análise de dados. Dentre as leis que aparentemente trabalhar racismo mas que são superficiais (pra inglês ver), contra as leis efetivas pautadas na realidade (Lei Afonso Arinos, Sistema ONU – “Brasil não teoria racismo”, CF/88, Lei 7.716/89 e de Injúria social), é preciso aplicá-las e defender sua efetivação, de teoria e realidade social alinhadas.

No ambiente de trabalho, é preciso estar atento para a produção de oportunidade de equidade para permitir a inclusão efetiva. Um exemplo é a doença do benzenismo, que é a doença causada pelo composto orgânico Benzeno (C6H6), presentes nas Indústrias Químicas (Petroquímica, de tintas e vernizes, de couros, etc., que são as principais responsáveis pela emissão de vapores tóxicos de benzeno. A prova disso são as vítimas comuns de Benzenismo que trabalham nestes locais. Porém quando descoberta, acreditava-se que essa doença era uma ‘doença de negros’, pois eram as pessoas mais afetadas pela mesma. Acontece que a maior parte dos trabalhadores dessas industrias, principalmente aqueles que estão diretamente expostos a esse composto eram homens negros, e por isso se construiu esse mito. A questão de raça incide também no ambiente de trabalho e intersecciona também com a qualidade de vida e interação ao meio ambiente. O movimento BellVida é um exemplo dessa relação, um movimento negro e ambiental. A interseccionalidade como caminho para o diálogo.

Debate posterior às apresentações:

Apesar de toda a possibilidade de debate incluído no tempo disponível, devido a proximidade com o resultado das eleições, grande parte do debate se concentrou na construção de ferramentas de análise sobre as perspectivas duras dos próximos anos. Como encarar a redução das políticas públicas pela igualdade? Como realizar a autocrítica e sobreviver, no sentido de não apenas manter empregos, mas a vida das pessoas?

Esse debate foi apenas iniciado ao final do workshop, na possibilidade de construção contínua interna das instituições, mas principalmente em rede, em prol da construção coletiva de ferramentas de fortalecimento social e de resistência. Quando o workshop foi planejado, não tínhamos a mesma perspectiva política do momento da edição, e o debate teve um fechamento marcado pela catarse de exposição de historias de vida como modos de construção de perspectivas a partir das experiências pessoais.

Minha posição foi no sentido de ouvir e aprender com tantas exposições de trajetórias políticas e institucionais amplas, que já passaram por outros momentos de opressão política.  Foi um momento de grande aprendizado e que a pesar do contexto me marcou pela necessidade de continuar defendendo a diversidade de pessoas e ideias, pois contraem perspectivas ricas. Em um momento que é marcado pela disseminação do ódio, é necessário mais ainda marcar a disseminação do amor. Diversidade continua sendo a chave e ter espaços para dialogar sobre é mais importante ainda. Significa que estamos no caminho certo no Bike Anjo, e devemos fortalecer o Bike Anjas e o Bike na Periferia além de construir mais atividades com parceiros.

Espero que esse relato seja igualmente inspirador para mais pessoas além de mim, e fico feliz por ter a oportunidade de ter estado la e de ter representado essa rede linda, por isso, compartilho tudo que vivenciei lá.

por Vivian Garelli
Antropóloga, voluntária do Bike Anjo Niterói, Rio de Janeiro e São Gonçalo e  Coordenadora do GT Gênero UCB

 

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