Anja no Pedal
Por Chantal Brissac
A autonomia proporcionada pela bike, o vento no rosto e a sensação de liberdade, além de vários outros benefícios que ela foi descobrindo com o tempo, mudaram tudo (para melhor) em sua rotina. Tina, como é conhecida entre os amigos, passou a trabalhar na rede Bike Anjo e se envolver cada vez mais com as questões da bicicleta e da mobilidade ativa.
Mais mulheres na bicicleta
Em 2016, ela e outras ciclistas começaram a refletir sobre a reduzida parcela de mulheres pedalando em São Paulo, cerca de 6% apenas. Decidiram então criar um pedal exclusivamente feminino, a fim de estimular o uso da bicicleta. Nasceu assim o projeto Bike Anjas, que hoje se espalha por várias cidades brasileiras, ajudando mais mulheres a conhecer, curtir e valorizar a magrela.
Tina lembra que, naquela época, a socióloga e cicloativista Marina Harkot foi uma das luzes inspiradoras das Bike Anjas. “E ela continua sendo uma grande inspiração para todas nós. É uma luta que a gente vai continuar, por ela e por todas nós”. A morte precoce de Marina, aos 28 anos, enquanto pedalava no dia 8 de novembro, atropelada por um motorista que fugiu sem prestar socorro, foi um golpe para toda a comunidade de ciclistas.
A jovem socióloga defendeu sua tese de mestrado “A Bicicleta e as Mulheres” na Universidade de São Paulo e trabalhou em uma pesquisa, na Ciclocidade, sobre a situação das ciclistas na capital paulista. “Foi a Marina quem conseguiu a contagem de ciclistas, além de outros dados importantes e que ajudaram a alavancar o nosso projeto”.
Espaço público mais gentil
Nesses quatro anos, Martina observa que o número de mulheres que pedalam na cidade cresceu (passou de 6% para 12%), mas ainda falta muito para chegarmos a um cenário de cidade segura, empática, saudável e sustentável. Uma metrópole onde as mulheres pedalam é melhor para todos, pois a ocupação do espaço público por pessoas de todos os gêneros, idades, raças e condições sociais é fundamental, e ressignifica a relação que temos com as ruas, com a cidade.
Em 2018, ela foi eleita a primeira diretora presidente mulher do Bike Anjo, função que desempenhou até janeiro de 2020. Hoje continua como voluntária atuante da rede, preocupada em ampliar o número de ciclistas e trazer mais segurança e proteção a quem pedala, especialmente as mulheres. Moradora da Serra da Cantareira desde criança, apaixonada pela mata atlântica, Tina lamenta o fluxo de carros em alta velocidade nas ruas onde cresceu, um espaço diferente do que o que ocupou, com liberdade, na infância e na adolescência. “Lembro que a gente tinha três bicicletas para quatro: eu, minha irmã e duas amigas vizinhas. Então uma sempre ia de patinete. Eram outros tempos, não havia tanto carro na rua”.
Para Martina Horvath, bicicleta é sinônimo de encontros. “Ela promove encontros com pessoas e também com lugares. Com a bike, a minha quantidade de amigos e amigas ficou enorme. É um privilégio ter essa rede de pessoas queridas e poder sair e se locomover com a força do próprio corpo. Fiquei viciada no movimento. Se fico parada, sinto falta de pedalar”, diz Martina, antes de partir com sua bicicleta Bertha, batizada em homenagem a sua avó paterna.
Vida de Bike é uma parceria do ProColetivo e Bike Anjo.