#13 Vida de Bike

Leveza, arte e alegria

Por Chantal Brissac

Passarinho e bicicleta. O que eles têm em comum? Liberdade, leveza, graça, independência. Essas são as duas paixões da fotógrafa e desenvolvedora de software pernambucana Valeria Pires, de 34 anos, mais conhecida como Lela. O melhor dos mundos é quando ela consegue unir esses dois prazeres e flagrar seus lindos pássaros em um passeio de bike, postados em seu Instagram @lelapires. Uma de suas fotos, a de um flamingo alimentando seu filhote, foi repostada no Instagram da National Geographic, referência em fotografias de natureza.
 

Outro de seus talentos é o design de bijuterias. Brincos, pulseiras e colares, cheios de estilo e consciência ambiental. E adivinhe com que material essas peças são feitas? Com velhas correntes e câmaras de ar furadas de bicicletas, mostradas no seu insta @bijucleta.

 Flamingos em momento familiar, foto postada no Instagram da National Geographic
 A arara canindé, fotografada por Lela
 Lela é apaixonada por pássaros, que ela fotografa com sua câmera com muita sensibilidade
 

A história de Lela com a bicicleta começou há quase trinta anos, quando ela, criança, aprendeu a pedalar com seu pai. Logo herdou a bike do irmão mais velho para treinar e, pouco tempo depois, ganhou a sua própria, uma Caloi, companheira por muitos anos. “Era pura brincadeira e diversão, nessa fase a bicicleta era isso para mim. E vou te falar, ainda é, porque ela traz muita alegria”, confessa Lela. Na adolescência esqueceu um pouco a magrela e, com a maioridade, tirou carteira de motorista, dirigindo seu carro pelas ruas de Recife. Mas a sensação boa de estar em cima de uma bicicleta ficou bem guardada e despontou com força quando um amigo a convidou para conhecer um grupo que se juntava à noite para pedalar, em meados de 2011.

 Uma de suas bijuterias, criadas com peças de bikes
 

Quando se uniu a essa tribo divertida e dinâmica, Lela não teve dúvidas: viu que não precisava mesmo do carro. Ganhou confiança nas ruas e passou a ir de bike para tudo quanto era lugar. Vendeu o automóvel e inaugurou uma nova fase na sua vida. “Mudou tudo. Ganhei amigos, ensinei muita gente a pedalar, e isso é uma das coisas que mais me deixa feliz, participei de vários eventos, comecei a fazer as bijuterias com os componentes das bikes, enfim, passei a viver de uma forma mais plena e feliz”, ela relembra. Fez várias viagens pedalando, uma delas para João Pessoa, em 2017, quando encarou mais de 100 km ao lado dos amigos ciclistas. “São experiências que nunca vou esquecer”.

 
 Como Bike Anjo em uma EBA em Recife
 Em um encontro da rede Bike Anjo em Vitória, no Espírito Santo
 Sua Caloi Andes, companheira de várias aventuras
 

A parceria com a rede Bike Anjo, da qual fez parte durante oito anos, conta muito nessa história. Ela se uniu ao grupo e foi uma das articuladoras do movimento em Pernambuco, ajudando várias pessoas a andar de bicicleta. “Foi maravilhoso participar do Bike Anjo e ver tanta gente se transformando por causa da bike”. Lela ensinava pessoas de todas as idades, mas principalmente mulheres mais velhas, com mais de 60 anos. “Uma delas, que participou da EBA (Escola Bike Anjo), comentou que só depois que o pai e o marido faleceram ela conseguiu realizar o sonho de aprender a andar de bicicleta. O machismo, que ainda existe hoje, era muito pior antigamente”, reflete.

 

Lela continua ensinando amigos e conhecidos a se equilibrar em cima da magrela e a encontrar os melhores trajetos para pedalar nas ruas de Recife. A capital pernambucana, infelizmente, é pouco gentil para quem pedala e caminha, ela desabafa: “Os motoristas são muito imprudentes e desrespeitosos e o trânsito é tão hostil como o de outras cidades brasileiras”. Ela relembra com pesar o falecimento de seu amigo Raul Aragão, pernambucano de 23 anos que vivia em Brasília, onde foi atropelado há três anos. Ele era membro das ONGs Rodas da Paz e Bike Anjo e presença constante nos encontros do grupo, em Recife. “O Raul era muito alegre e gostava de usar o nariz de palhaço na EBA. Por isso fizemos essa homenagem a ele”.

 
 Com nariz de palhaço em homenagem ao amigo e ciclista pernambucano Raul, atropelado em Brasília
 

A boa notícia é que a prefeitura vem fazendo algumas ciclovias e parece estar olhando um pouco para a mobilidade ativa. “Uma das ciclovias fica em frente ao meu prédio”, conta. “Essa faixa não tem muita ligação, acaba no nada, mas pelo menos é alguma coisa”, diz uma Lela otimista e que crê na melhora da cidade, com políticas públicas que favoreçam os ciclistas e os pedestres.

 Cercada de amigos, que recebe em sua casa
 

O apartamento de Lela, na região central da cidade, fica às margens do Rio Capibaribe, na rua da Aurora. Uma via linda e pontilhada por coloridos sobrados do século 19, em um cenário que remete a cidades europeias como Veneza e Amsterdã. A Casa de Lela, como é conhecida, é ponto de encontro de ciclistas de todos os cantos do país e do mundo. Ela recebe cicloviajantes e os acolhe com seu carinho e doçura. Quando sai com eles pelas ruas de Recife, Lela vai com uma de suas duas companheiras: a antiga Caloi 10 que ganhou de um amigo e ela ajeitou e recuperou, chamada Aurora, o nome da sua rua; ou a Amora, a Caloi Brisa.

 

Em uma ou na outra, ela vai leve e feliz como um passarinho, seu retratado preferido.

 
 

 

 Vida de Bike é uma parceria do ProColetivo e Bike Anjo. 

 

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